quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

O primeiro acidente

Tenho 26 anos, a menos de dois meses para completar 27. Nunca falei aqui (acho), mas aos 24 eu tirei carteira de motorista (passei de primeira, mesmo saindo em segunda marcha de uma parada regulamentar em subida de morro) e, aos 25, comprei meu primeiro carro, o Walter White (dividido em cinco anos, mas meu e comprado apenas com o meu suor - barato né?). Hoje, beirando os 27, sofri meu primeiro acidente de trânsito. [esse lide ficou quase igual o de baixo, às vezes sou meio repetitiva mesmo]

Não, não foi grave, nem chegou perto de ser, não me feri, todos estão bem, o rapaz que bateu na traseira do Walter assumiu a responsabilidade e, até o momento, pagará o conserto. Não vim aqui para dizer "ó, sofri um acidente, etc etc etc". Mas é que fiquei pensando nas coincidências da vida, dos atos e dos pensamentos, em como todas as coisas se conectam em uma só no fim das contas.

Alguns podem chamar de sexto sentido, mas acho que não é e é possível que toda pessoa sinta isso: quando algo ruim está para acontecer, seu cérebro (e talvez coração?) emite vários avisos, indiretamente, de que aquele dia específico você não terá uma rotina normal. Alguma coisa vai acontecer. E na maioria das vezes só percebemos os avisos cerebrais, infelizmente, após o ocorrido.

Primeiro aviso: hoje acordei pensando em ir para o trabalho de ônibus, vejam bem. Às vezes, faço isso para economizar gasolina, apesar de nas últimas semanas não ter usado o coletivo nenhuma vez. Precisava terminar um livro para fazer uma matéria, e aproveitaria os 50 minutos de ônibus para tal. Mas aí acontece de quinta-feira ser um dia no qual posso me dar ao luxo de almoçar em casa sem grandes preocupações, e acabei me atrasando lavando o cabelo - que agora é cacheado de novo e precisa de 345328 produtos. Resumindo, "ah, vou de carro mesmo".

Segundo aviso: tenho mania de pensar na vida enquanto dirijo. Hoje, todos os pensamentos estavam voltados para as finanças. Em abril, começo uma pós quinzenal em roteiro, no Rio de Janeiro. Mais do que nunca na vida vou precisar economizar para poder viajar duas vezes por mês e ainda pagar a mensalidade, sem deixar de pagar o carro e o seguro do mesmo. Moro com meus pais e não de aluguel, o que ajuda, mas mesmo assim será bem difícil, basta você pesquisar por aí qual o valor do salário de um jornalista. Então fiquei pensando infinitas situações, tais quais: e se eu vender o carro (!!!!) e conseguir um emprego no Rio?; não posso ter prejuízo nenhum com esse carro nesse ano, senão fodeu; se acontecer alguma coisa com o carro e eu precisar pagar e surgir uma oportunidade de ir pro Rio (até parece) e eu precisar vender o carro e não conseguir porque ele está batido (!!!!!!!!!!!!); meu salário podia ser um pouco maior para poder continuar pagando esse carro sem sufoco; oh deus, que fazer da vida?.

E foi aí que, subindo uma ladeira na rodovia Norte-Sul, no cruzamento da entrada do Bairro de Fátima, sentido Serra-Vitória, vi que a pista da direita, na qual eu seguia, estava sinalizada com cones devido ao corte do mato do acostamento (véi!!!). O problema é que o primeiro cone de aviso estava bem na subida, logo depois de uma curva, de modo que eu só tinha duas opções: ir para a esquerda rapidamente ou ligar o pisca-alerta, frear, parar o carro e tentar ir para a esquerda rapidamente (a terceira seria atropelar os cones, mas não recomendo). A primeira opção foi inviável, uma vez que, na pista da esquerda, o fluxo de carros estava intenso e os motoristas estavam, no mínimo, a 80km/h (o limite ali é de 60km/h). Obviamente, para não "fechar" ninguém e justamente para não causar um acidente, fiz a segunda opção. Foram apenas alguns segundos para decidir... com o tempo, fui aprendendo que o trânsito é feito de decisões rápidas, como essa. Não dá para ir, sinalizo, espero e tento. Pensamento nisso, um olho no retrovisor interno, outro no esquerdo, e vamo que vamo. Dirigir é uma adrenalina constante.

Mas, também em questão de segundos, o carro que dirigia atrás de mim com menos de um minuto de distância não viu meu alerta em tempo (assim como eu não vi o cone). Pelo retrovisor interno, eu o vi chegando. Pensei que ele conseguiria parar, olhei para a esquerda para ver se dava para ir, não dava, e nesse momento ouço um barulho forte, meu corpo é projetado com força para frente (viva o cinto de segurança, meu povo!) e meu celular cai de um compartimento acima do som para debaixo do meu banco (não sei como essa parte aconteceu). Tudo em questão de segundos. E, até eu processar o que realmente tinha acontecido, de forma egoísta comecei a lembrar dos meus pensamentos antes do acidente, abaixei a cabeça no volante e chorei.

Segundos depois, ergui a cabeça, olhei para trás e vi os ocupantes do carro saindo: um casal, estão bem, graças a Deus. Saí chorando, nervosa, as mãos tremendo. Cara, eu nunca tinha passado por isso. A esposa do motorista me acalmou, disse que tava tudo bem, eles tinham seguro, sem feridos, coloca o triângulo, meu Deus que perigo, as pessoas também estão vendo o triângulo em cima da hora, assim como vi o cone e o moço viu meu carro em alerta. Descubro que no carro do condutor ainda há um bebê de um mês de vida. Choro mais, a mãe da neném me acalma, afinal a culpa não foi minha, me sinto culpada, a neném é fofa, estava dormindo e continuou dormindo, nem sentiu o impacto, que fofa, queria ser neném de novo, não me preocupar com mais nada...

***

Depois de chorar na frente dos outros, da mão tremer que nem ônibus passando em estrada de chão, de agradecer a Deus mil vezes por minha vida e pela vida daquela família e pelos danos mínimos diante de tantos acidentes graves que vemos por aí diariamente, ainda tive a coragem e a idiotice de comentar, na delegacia, "esse é meu primeiro B.O.". Por qual motivo, DEUS, fazemos comentários estúpidos sem pensar diante de situações sérias? Juro que foi sem querer.

Mas falando sério agora (antes era também, mas agora é mais), mesmo não sendo grave, vou ficar pensando nesse pequeno acidente por um bom tempo. Vários 'e se' vão ficar na minha cabeça por um bom tempo.

Queria agradecer ao motorista que colidiu no meu carro (e que não vai ler esse blog nunca na vida) por motivos de: aparentemente é um cara do bem, assumiu a responsabilidade todo o tempo, tem uma esposa legal que, mesmo com uma neném de um mês no carro, tentou me acalmar, não fugiu e seu seguro (acho) que vai pagar o meu conserto. No fim, eu tive sorte. Muita sorte.

domingo, 5 de outubro de 2014

Eu só vim pra votar

Tenho 26 anos. Moro no mesmo bairro há quase 19 anos. Meu condomínio possui mais de 20 prédios, sendo que cada um possui 16 apartamentos. Não fiz o cálculo de quantos moradores há no meu condomínio. Há 11 anos, somando ensino médio, faculdade e vida adulta, estudo/trabalho em outra cidade e praticamente não conheço os "novos" moradores no meu condomínio. Por ser criança, na época, já não conhecia nem metade dos antigos moradores, salvo os pais das minhas amiguinhas e vizinhos do meu próprio prédio.

Há dez anos sou eleitora. Comecei a votar com 16 anos mesmo, após ficar 7h numa fila para tirar meu título, aquela vontade que os jovens têm de fazer a diferença coisa e tal. Há dez anos, então, voto aqui no bairro mesmo, no mesmo colégio estadual de ensino fundamental, localizado a algumas quadras do meu condomínio. Há dez anos, de dois em dois anos, neste colégio é feita uma verdadeira reunião de vizinhos, que mesmo sem nunca terem falado com você, de repente te conhecem como se fossem seus amigos íntimos.

Antes que eu pareça antipática, o que de fato talvez eu seja aos olhos de algumas pessoas: cumprimento pessoas que conheço e gosto, quando as enxergo - infelizmente, o mundo não é tão nítido para os míopes. Tenho vizinhos legais e acho que eles me acham também uma pessoa legal, apesar de não enxergá-los às vezes. Porém, com toda a sinceridade, zero é minha paciência para bater papo com pessoas com quem nunca falei - e que também nunca fizeram questão de falar comigo.

***
 
Hoje é domingo. Fui votar com fome, sem ainda almoçar, por volta das 14h. Fui dormir às 5h e havia acabado de acordar. Não me julguem, é meu último dia de férias e passei a madrugada numa maratona tensa de "The Following" (assistam). Nessas condições, o humor de uma pessoa já não é normal. Pelo menos, não o meu. Resolvi ir andando, e não gosto muito de andar quando na verdade quero dormir mais. Cheguei ao colégio, achei rapidamente a sala de votação e entrei na fila. Claro que havia pessoas do meu condomínio por todo o lugar. Na porta, havia uma delas. Eu não sei o seu nome, e até o momento ela também não sabia o meu. Nunca nos falamos, e suas filhas não tinham a mesma idade que a minha quando eu ainda brincava pelos parquinhos de nossa moradia. Mas como sabia que ela era daqui, dei um sorrisinho de boa tarde, como prova de minha simpatia. Depois, fiquei quieta, esperando o momento de votar. Ela pegou meus documentos para autorizar a entrada, e quando leu os nomes de meus pais, seu rosto se iluminou. Claro, ela conhecia meus pais. Todos conhecem. Ninguém me conhece.

"Como estão seus pais?", ela perguntou, dizendo o nome de papai enquanto olhava meu RG.
"Estão bem, já votaram de manhã, eu que deixei pra agora mesmo", respondi, ainda dando um assunto a mais, para provar que não sou antipática.
"Tempo que não vejo sua mãe", ela disse, enquanto a minha expectativa era de que o assunto (se é que ele existia), não prosseguisse. Eu só queria votar e voltar, a fome crescia e eu queria continuar assistindo à "The Following".
"É, ela fica muito em casa", informei, pensando que agora sim o assunto ia acabar e eu ia votar. Mas a pessoa que ainda estava lá dentro assinando o caderninho antes da votação demorava demais.
"E você, já casou?"

PARA TUDO. Essa conversa evoluiu rápido demais. Sempre fico me perguntando por qual motivo essas perguntas surgem no meio de outros assuntos, do nada, vindo de pessoas que às vezes nunca se preocuparam em te dar um "bom dia" - não que eu tenha me preocupado, mas nunca interroguei ninguém sobre assuntos pessoais. Seria para comparar com a própria vida? Seria, para depois, contar vantagem do tipo "olha, minha filha já noivou casou teve filho etc e a filha de fulana ainda tá solteira etc", como se ainda isso fosse vantagem e estivéssemos na década de 1960. Como se casar fosse a principal realização de uma mulher depois dos 20. Porque ela não me perguntou se eu já tinha formado, se eu estudava, se eu trabalhava, quiçá se eu tinha um namorado lindo e maravilhoso (o que eu tenho)???????? Sim, muitas interrogações.

"Não, tá cedo ainda", respondi, dando uma justificativa que nem era necessária.
"É né, mas hoje em dia as meninas tão casando tão cedo", ela disse. Não sei se havia reparado na minha data de nascimento no RG. 

Várias respostas passaram pela minha cabeça: "defina CEDO", "e daí?", "problema é delas", "foda-se", "ce acha que tô velha, por acaso?", "se você pagar meu casamento e me der um apartamento, caso mês que vem", etc. Porém, falei:

"É, né."

Benzadeus, a mulher dentro da sala finalmente votou e eu entrei, me livrando de mais interrogatórios de uma pessoa que nem sabia meu nome há cinco minutos. Votei, saí e dei tchau para a vizinha, sorrindo. Afinal, não é nada pessoal, eu só não entendo mesmo o sentido dessas conversas. Só fui lá pra votar.

sábado, 7 de junho de 2014

Ódio, feridas e unhas

"Não há nada pior/melhor que" é uma frase clichê, muito usada no jornalismo quando o repórter anda meio sem criatividade coisa e tal. Às vezes até quem abomina tal recurso, como eu, acaba escrevendo sem querer a tal frase em alguma matéria. Mas, hoje, peço licença para usá-la de forma consciente. Afinal, sou uma mulher machucada, e uma mulher machucada tem total liberdade de cometer excessos durante relatos verbais em seus momentos de fúria. NÃO, não há nada pior do que ser maltratada por uma manicure em um salão de beleza. Hoje passei por momentos de fúria, ódio, rancor e todos esses sentimentos que se assemelham à raiva durante cerca de 40 minutos sentada em uma cadeira, único objeto que, por ser confortável, escapou de minha ira mental.

Uma manicure é um dos grandes exemplos de que não se pode confiar em ninguém nessa vida: você pode ir do amor ao ódio em um único erro. Para mim, é muito difícil achar alguém legal, bacana, etc, para fazer minhas unhas. E olha que sou uma cliente muito legal: eu mesma levo meu esmalte, da minha pequena coleção; não tiro cutículas, logo dou menos trabalho; sou quietinha, não fico fofocando nem falando mal de ninguém... rapidinho a moça faz minha a unha e está liberada. Não há motivos para feridas. 

Ano passado eu finalmente havia encontrado. Hoje, a perdi. Na verdade, ela me perdeu. Sabe quando você pensa: NUNCA, mas NUNCA mais volto nesse lugar! Pois é. Após um tempo sem dinheiro para o salão, finalmente sobrou uma graninha. Marquei pé e mão às 11h e lá fui eu com meu esmaltezinho no bolso. Cheguei 15 minutos atrasada, o que nunca acontece. Todas as vezes anteriores que fui à mesma manicure, ela estava atrasada com outra cliente e eu esperava 15, 20... até 30 minutos já esperei. Achei que não fosse ter problema.

Primeiro, recebi um whatsapp: "só vai dar para fazer um". Eu já estava quase chegando no salão. Já fiquei revoltada aí: poxa, sempre, SEMPRE, espero, e minha unha é tão rápida, porque isso? Cheguei lá, ela atendia outra pessoa. Esperei uns dez minutos ou mais. Diz ela que a moça estava lá fazendo o cabelo e, que como eu atrasei QUINZE MINUTOS, ela foi fazer a unha dela. Sendo que, quando cheguei, ela já estava terminando o pé. Impossível ela ter feito tudo naquele pouco tempo. 

Mas tudo bem. Sentei na cadeira e ela começou a fazer tudo apressadamente, com cara de cansada. Entendo que ela estivesse cansada, entendo que não deve ser fácil ter que mexer em pés e mãos de várias pessoas todos os dias. Sempre pensei em como deve ser difícil ser uma manicure, ter que lidar com todos os tipos de pessoas, das limpinhas às sujinhas. Sempre tento ser o mais legal possível. E, além do mais, estou pagando o serviço. Pedi que lixasse a unha quadradinha, mas que arredondasse nas pontas, para não machucar depois. Tive que fazer isso em casa, há pouco. Reforcei que não tiro as cutículas (só aqueles excessos aparentes), mas tive que toda hora chamar a atenção, para não ter um grande bife arrancado. Porém, o pior ainda estava por vir.

Sabe quando, após aplicar o esmalte, se passa aquele palitinho ao redor, antes de limpar? Pois é. Ela passou com tanta, tanta força, que achei que fosse furar o meu dedo. E isso quase aconteceu na mão direita, com o dedo do meio. A força aplicada foi tanta (e desnecessária), que acabou machucando. Não chegou a sangrar, mas cortou a pelinha. Apesar da dor quando ela passou o palitinho, eu só senti que tinha machucado MESMO quando ela foi limpar, com acetona. Ardeu que nem o inferno. Avisei que estava doendo e machucando, e ela simplesmente respondeu "é sua pele, que desceu um pouco. ela tava molinha". A culpa, claro, foi da minha pele. Pedi para ela parar, mas ela foi tentar consertar, passou o palito de novo, repetiu todo o processo anterior, machucando e ardendo ainda mais. Não adiantou alertar. Fiquei tão em choque, que nem consegui tirar a mão dela e brigar. Sofri calada.

Agradeci, paguei e saí, muito, mas muito aborrecida. O dedo ardendo. Inconformada. Apesar de não ter sido nada grave e nem ter sangrado (o que acontece quando arrancam o famoso bife), pelo menos até amanhã, toda vez que eu lavar as mãos ou tomar banho, vai arder para CACETE. E eu nem tiro cutículas, essa é a parte que revolta. Não tenho motivos para sair ferida de um salão. E saí. Pensei até em postar a foto aqui de como ficou essa unha e a minha pelinha ferida, mas acredito que posso poupar vocês desta cena. Jamais pensei que meu primeiro post aos 26 anos fosse ser sobre isso.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Aquele sobre o direito de comprar em paz

Sou uma pessoa legal e não faço mal a ninguém. E se um dia eu fiz, peço perdão a seja lá quem for e juro, jurinho, que nunca tive a intenção. Com base nisso, queria dizer que eu só gostaria de ser bem tratada nos estabelecimentos comerciais nos quais entro à procura de algo para satisfazer minhas necessidades feat. meu consumismo. Aliás, não importa a finalidade - contanto que não seja crime -, todos merecem ser bem tratados. E não estou falando só de preconceito, que se eu sofri de algum tipo, nem percebi.

Não é de hoje que algumas lojas da Grande Vitória, aqui no Espírito Santo, são duramente criticadas por conta de seu atendimento aos clientes. Seja por tempo de espera, ou por impaciência em tirar dúvidas, ou por "perseguição" na loja - ou só eu que DETESTO quando o atendente fica me seguindo, como se eu fosse roubar algum produto a qualquer momento? Enfim, as reclamações são inúmeras. Aposto que na timeline do seu Facebook, todos os dias tem alguém relatando um caso de péssimo atendimento.

***

Eis que, na última sexta-feira (31), após o trabalho, fui ao shopping para comprar umas coisinhas que já havia planejado há uns dias. Como estava de ônibus, cronometrei certinho o tempo gasto em cada loja que devia ir, pensando já no horário que eu sairia do shopping e, consequentemente, no horário que eu chegaria ao terminal rodoviário para pegar o segundo ônibus, que me deixaria em casa finalmente. Nada poderia sair do roteiro, pois um minuto a mais perdido ocasionaria em uma espera de CINQUENTA (não estou mentindo, leitores) minutos no terminal. E isso, por volta das 22h de uma sexta, eu não desejo a ninguém.

Eu precisava, antes de mais nada, imprimir umas fotos da formatura do meu namorado. O plano era, depois, dar de presente um porta-retrato já com a foto para ele e outro para a mãe dele. Na loja, fui informada de que demoraria cerca de 20 minutos para imprimir três fotos. Beleza, enquanto isso eu rodaria o shopping à procura de umas molduras bem bonitas.

Para meu desespero, nenhuma loja que poderia ter esse tipo de presente tinha o tamanho que eu queria: 20x15. Quando tinha, era tipo R$ 90. Não sei você, mas eu não pago R$ 90 em um porta-retrato, isso é tipo metade da gasolina que gasto em um mês. Ou uma bolsa legal, ou uma sapatilha da moda. Mas não um porta-retrato. Além disso, nenhuma dessas lojas me atendeu de boa vontade: em uma, a atendente ficou me seguindo e tentando me empurrar um 10x15, sendo que expliquei várias vezes que eu já tinha mandado imprimir 20x15 e que esse tamanho era mais bonito (e eu ainda me dou o trabalho de explicar o porquê da escolha do tamanho). 

Na outra - campeã de reclamações no meu Facebook, nem sei porque ainda fui lá -, a vendedora, com uma cara de desprezo que não consigo nem explicar, me disse que não tinha e que ninguém comprava desse tamanho (eu compro, uai, cadê meus direitos?). Perguntei sobre a possibilidade de ter daquele porta-retrato, que também serve de porta-papel (nem sei se usa hífen, tá gente?), em que só pregamos a foto. Segue o diálogo, que eu não acredito até agora que aconteceu:

- E daqueles que a gente só coloca assim a foto (faço o movimento de pregar a foto como se fosse um bilhete), será que não tem?
- Isso não é porta-retrato.
- É sim, eu já comprei, já ganhei, serve para fotos e recados...
- Isso é um porta-foto. Porta retrato é aquele ali (ela aponta pros clássicos retangulares). Isso que você está falando é porta-foto e porta-recado.

Desisti na mesma hora, agradeci e saí. É possível que eu nunca mais volte, por mais fofuras que essa loja tenha.

Ainda na esperança, fui à duas livrarias, que também vendem artigos de presente, e perguntei se não havia no tamanho 20x15. Para minha surpresa, as duas lojas haviam retirado das prateleiras por conta da volta às aulas. Aí eu pergunto: o que uma coisa tem a ver com a outra? Ninguém compra porta-retrato nessa época (eu compro, oras!)? Desolada, voltei à loja de artigos fotográficos para buscar as fotos e decidi comprar, lá mesmo, qualquer porta-retrato sem originalidade. E, adivinhem? Eles não tinham nenhum modelo 20x15. Nenhunzinho.

Por sorte, neste mesmo shopping, há um estabelecimento especializado em molduras. Olha que legal! Eles fazem de quadro, de pôster e de fotos, claro. E havia vários modelinhos e cores no tamanho 20x15, fiquei tão feliz que achei que nada mais pudesse me tirar o sossego naquela noite de sexta-feira. A atendente foi super simpática, me explicou os preços, quem nem eram caros, e me deixou escolher os modelos. Estava eu, toda feliz, posicionando as fotos em cima das molduras, para ver como ficava, quando uma senhorinha se aproximou e começou a falar:

- Escolhe o branco, fica melhor.
- Ah não, tô vendo aqui ainda  - eu disse, forçando simpatia.
- Mas o branco é melhor que esse aí.
- Ah, não quero não, tô em dúvida nesses dois aqui - eu tinha um dourado e um marrom na mão.
- Mas esses são feios, o branco é mais bonito.

Peraí. O limite, que já havia sido ultrapassado, foi esmagado. Ignorado. Fiquei puta, me perdoem a expressão. Mas é que já é muito chato gente desconhecida que puxa assunto do nada. Fica ainda pior quando essa pessoa começa a OPINAR e SE METER no que é seu. Ou quase seu. Para meu choque supremo, descobri no mesmo instante que ela era dona do lugar. Proprietária, aquela que devia agradar o cliente, vulgo deixá-lo em paz, escolhendo suas moldurinhas, estar ali só para ajudar, quando for solicitada... E, para provar que minha reação não é exagerada, segue a continuação:

- Mas eu não gosto de branco - expliquei, cortando o assunto, porém ainda tentando ser educada. 
- Porque não?

Meu Deus, ela queria saber porque eu não gosto de branco? É isso mesmo? O que ela tinha a ver com isso? Não tenho o direito de ter dúvida entre marrom e dourado e ignorar o branco? Eu já não ia comprar TRÊS molduras? Não custava me deixar quieta escolhendo? Muitas perguntas, nenhuma resposta.

- Porque não - respondi, exalando antipatia.
- Essa aqui é você? - ela continuou, apontando para a mãe do meu namorado, na foto deles. Juro que ela fez uma cara irônica.
- Não.
- É quem? - meu Deus, ela não desistia.
- É minha sogra.
- Nossa, se fosse sua mãe não seria tão parecida - quis socá-la, mas fiz cara de indiferença e, depois dessa, ignorei.

No fim, ela descontou na atendente boazinha, dizendo que ela estava colocando as fotos de maneira errada, que tava embalando de forma errada. Em um último momento, acho que ela tentou se vingar de mim:

- Esse valor dá para dividir em duas vezes? - perguntei, pensando nas contas do início do mês, coisa e tal, gasolina, alimentação, etc. Não está fácil.
- Dá s... - a vendedora ia me dizer, quando foi cortada pela senhorinha:
- Não dá, não - ela disse, perdendo toda a pseudo simpatia que ela fingia ter.

Sou pobre, mas tenho dignidade, então paguei em uma única vez mesmo o valor e saí, agradecendo apesar de tudo. Olhei o relógio no celular: incrivelmente, ainda dava tempo para minha última tarefa programada, que era comprar um outro presente para o namorado. Fui à loja, escolhi rapidamente, por já saber o que queria, fui para o caixa e comemorei a fila com apenas duas pessoas. Tudo daria certo. Na minha vez, o computador do caixa deu problema e a máquina precisou ser reiniciada. Como ninguém teve a capacidade de me passar para outro caixa vazio e funcionando, esperei. Esperei. E perdi meu ônibus.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Aquele da vontade de viver

Preciso confessar que, já há alguns anos, venho tendo um pensamento idiota sobre o futuro da minha saúde. É vergonhoso e eu admito. Já devo ter comentado com amigos mais próximos acho, já falei isso com minha mãe também, com certeza, e ela me chamou de doida. Mas vou contar como esse pensamento surgiu antes de dizer o que é, para vocês me entenderem melhor e não me acharem tão idiota assim.

Eu nunca fiquei internada - nada além de ficar algumas horas tomando soro. Eu nunca operei. Eu nunca quebrei nada (do meu corpo). Tudo que eu tive, até hoje, foi superficial. Até quando fiquei doente de uma forma mais grave, seja com infecção no estômago ou com minhas amígdalas problemáticas (que me perturbam desde pequena), eu nunca sofri de verdade uma enfermidade a ponto de passar alguns dias no hospital. Até os 25 anos, nunca precisei vestir aquela roupinha que meu pai precisou vestir nas duas vezes que infartou. 

Minhas lembranças de hospital sempre são de outras pessoas. Meu irmão, meu pai, meus avós... para me tratar, nunca precisei mais que algumas cartelas de antibióticos, xaropes e coisas do tipo. Já ouvi frases do tipo "Darshany está sempre doente". Mas não é bem assim. É só uma garganta que dá problemas demais.

O pensamento idiota que me veio à cabeça, após refletir sobre tudo o que falei acima, é: algo muito ruim ainda me espera. É algo que me dá medo. Nada grave ter acontecido até hoje, só pode ser sinal de que algo pior virá pela frente, quando eu menos esperar. Eu sei que não é bem assim, e que posso ficar saudável e nunca ter nada grave (?). Mas quem é que controla o próprio cérebro, quando começa a nos pregar essas pegadinhas sobre o futuro?

***

Hoje, tomei um tapa na cara, mas não no sentido literal. A vergonha desse pensamento negativo só aumentou quando, por uma coincidência, comecei a ler o blog da jornalista Natalie Marino, o Viver Superando. Natalie descobriu um câncer de mama aos 32 anos, em janeiro do ano passado. Em seu blog, ela relata como vem enfrentando a doença desde então, suas vitórias, o término da quimioterapia e como sua vida mudou após o câncer.

Quando eu entrei na Rede Gazeta, em 2010, a Natalie já trabalhava lá como repórter. Lembro de ler suas matérias de polícia, lembro da época da descoberta do câncer, quando meus colegas da redação da TV comentavam o que tinha acontecido, e eu simplesmente não conseguia acreditar que alguém tão jovem poderia ter tal doença. Apesar de Natalie estar próxima, eu nunca a conheci, por ela estar, naquela época, em uma redação diferente.

Acabei de passar o final da noite lendo o blog dela. Post após post, até novembro deste ano. Ri, chorei, me emocionei com sua história. Não a conheço, mas fiquei muito feliz por ela estar bem e ter terminado o tratamento vitoriosa. O fato de Natalie ter tido câncer tão nova (apenas sete anos me separam dos 32) poderia me deixar ainda mais preocupada em ter algo no futuro. Mas aconteceu o contrário. Eu não quero pensar nisso. Eu quero é aproveitar a vida e ser feliz. Cuidar da minha saúde e deixar o futuro acontecer. Aproveitar cada momento do hoje. E, se algo acontecer e não puder ser evitado, que eu possa ter a força que a Natalie teve. Que sua história sirva de inspiração desde já. Obrigada, Natalie.


terça-feira, 10 de setembro de 2013

Aquele da pedrada na janela do ônibus

Antes que alguém possa pensar em condenar o post e defender o outro lado, já adianto que o relato a seguir nada tem a ver com nenhuma das manifestações ocorridas nos últimos meses, e nem é uma posição da autora em relação às mesmas. Apenas um depoimento do pavor momentâneo vivenciado na última noite. (É bom avisar, afinal muita gente nem lê uma linha e já presume que compreendeu o texto. Acreditem: acontece).

Talvez eu nunca tenha sentido um medo tão intenso nesses 25 anos - talvez até tenha, mas ele acaba de ser ofuscado -, nem mesmo quando voltei do Rock in Rio em 2011, sozinha, em uma cidade completamente estranha (acho até que posso contar sobre isso depois). O fato é o seguinte, meus amigos: hoje, eu quase levei uma pedrada na cabeça. E daquelas bem bonitas, que fazem um estrago lindo de se ver.

Eram aproximadamente 20h15, pouco menos ou pouco mais que isso, e eu voltava para casa, em direção ao Terminal Rodoviário de Carapina. Estava tudo certo para pegar o onibus de 20h35 para minha casa, apesar de inicialmente a previsão ser o de 19h50. Mas sabe como é, uma vez no shopping, o descontrole toma conta. Além do presente de aniversário da amiga, parei para comprar uma bolsa nova. Mal sabia eu o efeito que essa pequena parada para as compras e essa troca inocente de horários causariam na minha pacata rotina.

O 515, que faz a linha Terminal de Campo Grande > Terminal de Laranjeiras, nem estava muito cheio. Deviam ter umas três ou quatro pessoas em pé, somente. Tudo ia muito tranquilo e estávamos na altura do Colégio Salesiano, entre Jardim Camburi e Bairro de Fátima. Eu estava sentada do lado direito (da porta), próximo à janela, nos bancos localizados um pouco depois da porta do meio. Um garoto ao meu lado cochilava, e eu estava no mesmo caminho. Os olhos quase fechando, fechando, sonha Darshany, que já, já cê tá chegando em casa... BUM.

O máximo que consigo mostrar, ainda com as mãos trêmulas,
após limparem o banco.
Nessas horas tudo é tão rápido que você fica atordoado, olhando para todos os lados. Ao mesmo tempo que parava para olhar os cacos de vidro ao meu redor e dentro da minha blusa, vi um grupo de jovens (não sei precisar quantos, nem se eram menores) correndo em direção contrária e gritando 'uhhhhh', como se estivessem comemorando. Comemorando o quê? Possíveis passageiros inocentes feridos? Ou será que eles não fazem ideia do que pode acontecer ao jogar uma pedra enorme na janela de um ônibus?


A janela atingida foi exatamente atrás de mim. Não sei como, mas a pedra não atingiu a cabeça de ninguém, e ninguém também se cortou com o vidro - na verdade essa última parte não tenho certeza, mas no meu caso, só restou um pescoço vermelho pelo impacto dos cacos, já que por ironia do destino eu usava um rabo de cavalo. Os passageiros do banco de trás, os mais atingidos pelos cacos, levantaram e seguiram em pé a viagem. Pareciam bem, apesar de assustados. A moça da frente, que estava sozinha, percebeu que eu estava abalada e não levantava, e me chamou para sentar com ela, já que havia um assento livre. "Vem para cá, tem um monte de vidro aí. Você está bem?". Nem perguntei o nome dela. 

Pensando melhor agora, nem olhei direito para as outras pessoas. O ser humano e essa mania de egoísmo. Para tentar justificar, digo que fiquei chocada. Até agora ainda ouço o barulho forte do vidro quebrando, do nada. Vai que era tiro? Nós estamos mais vulneráveis do que imaginamos, essa é a verdade. Por mais que o jornalismo nos permita ver coisas terríveis, nunca pensamos que nada daquilo possa acontecer com a gente. Como uma pedrada no ônibus, por exemplo. 

O mais incrível de tudo é que o motorista não viu o grupo de jovens, e chegou a insinuar que alguém de dentro do ônibus havia empurrado a janela e quebrado. Bom, desci no terminal e, apesar dos obstáculos, consegui pegar o ônibus de 20h35. Não lembro se agradeci à moça que me acolheu gentilmente por cinco minutos em seu banco. Nós trocamos algumas palavras, mas também não me lembro.

Se os meninos estavam protestando? Não sei. Revoltados com alguma coisa? Não sei. BRINCANDO? Sei ainda menos. O que sei é que o ser humano, em seus atos impensados, cada vez menos pensa nas consequências para o próximo. Fico pensando: e se tinha alguma mulher segurando um neném do lado da janela? Acho que pensarei em vários 'e se' até o fim da semana, pelo menos. Porque é muito inacreditável esse tipo de atitude, em qualquer circunstância, até mesmo em protestos. Nenhum inocente merece se machucar. Eu não mereço.

Como desabafar no Facebook incomoda muita gente, fica aí o meu desabafo.


terça-feira, 6 de agosto de 2013

Aquele dos esmaltes e unhas coloridas

Sempre me disseram que, quando se começa a namorar, além de engordar, você passa a não se preocupar tanto com a aparência. Afinal, já conquistou o que tinha que conquistar. Eu gostaria de dizer que discordo das duas afirmações e acho essa coisa de "já conquistou mesmo" extremamente ridícula.

Primeiramente, porque nunca engordei por causa de namoro em si. E, agora, o que aconteceu é que eu já estava em uma fase de engordamento muito antes de começar o relacionamento. E isso tem um nome, sim: dobras no trabalho que se converteram em dobras de pelancas e pneus. Então, nada tem a ver com namorar. Só faltou ainda a vergonha na cara de reverter a situação. Portanto, aos que me veem depois de muito tempo, ou simplesmente que não têm nada melhor para comentar, um recado: eu já estava gorda.

Segundo: não é porque você já está namorando, que não precisa parecer bonita, se arrumar, etc. Cadê a autoestima? Eu tenho muita sorte do meu amor não ligar para maquiagem, essas coisas... e eu, como nunca fui fã de me arrumar com tudo o que se tem direito, continuei assim, mas não é por isso que apareço desleixada. Apesar de alguns deslizes vez ou outra, que às vezes dá preguiça.

#unhadasemana
E a questão vai além de agradar alguém. É agradar a si mesma. Claro que, quando você pinta uma unha - que é próximo ponto a ser analisado - você espera que alguém repare. No caso, a mãe, para a aprovação da cor, e o namorado, que prefere cores escuras mas te ama de qualquer forma, até se um dia sua unha cair por acaso do destino - assim espero, mas não espero (entendem?). Mas não é tão bom se sentir bem, com as unhas pintadinhas, bonitinhas, coloridas? Eu acho o máximo.

E digo isso porque meu amor pelas unhas feitinhas é bem recente. Vou explicar. Desde que eu era adolescente, bem jovenzinha, eu já gostava de pintá-las. De preto, óbvio. Mas sempre em casa e, com a preguiça e a falta de coordenação motora, era bem raro aparecer de unhas pretinhas na escola. Como eu não tinha costume de ir a um salão de beleza e nem dinheiro para isso - sou pobre e não tinha mesada, gastava o dinheirinho que raramente ganhava no cinema -, ficava com os dedinhos livres de qualquer cor.

Acontece que eu cresci, aprendi a gostar de mais cores, mas continuei pobre, com preguiça e sem coordenação. Minha mãe começou a me dar esmaltes da Avon (tem cada cor linda!), eu vez ou outra comprava alguns da Colorama/Risqué/Impala/etc em supermercados ou farmácias, mas guardava tudo. Usava um ou outro beeeeeeeeeem de vez em quando, mas como na maioria das vezes ficava tudo feio, eu desistia. Quando comecei a ser assalariada, a falta de costume venceu e nem pensei em fazer as unhas no salão - salvo casos de festas, formatura, etc.

É difícil admitir isso, quando a maioria das garotas SEMPRE frequentou salão. Minha mãe até me disse uma vez, que queria que eu fosse mais arrumadinha, essas coisas de mulherzinha. Mas não rolou, preguiça, coisa e tal, me deixa que em casa passo uma base básica. Coincidentemente, depois que comecei a namorar este ano, resolvi tirar meus esmaltes da maletinha - sim, eu tenho uma maletinha cheia deles, das mais variadas cores! Irônico, não? Alanis diria isso.

E aí, mesmo com a preguiça dizendo "oi" de vez em quando, agora eu estou indo quase sempre ao salão pintar as unhas, usando todos os meus esmaltinhos coloridos lindos, pensando em comprar mais, ampliar minha coleção, vou até comprar uma maletinha nova. Meu namorado repara, na maioria das vezes, apesar do amor não depender disso, grazadeus. Mamãe opina, temos mais um assunto agora. E com o instagram rola o #unhadasemana. Parece bobeira, mas dá pra conhecer muitas cores novas que estão usando por aí e ter uma ideia do que comprar, além de novas invenções - ainda não tive coragem de inovar, prefiro por enquanto pintar de uma cor só. Estou até lendo blogs especializados. E olha que eu nem tiro a cutícula - porque já não tirava, então não preciso, e porque descobri ser mais saudável para as unhas também. Até aceito esmalte de lembrancinha, se você quiser me agradar.

É, acho que tenho um novo hobby.